DIABETES, EXERCÍCIO E DIETA

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença milenar que acompanha a humanidade até os dias de hoje. É um importante problema mundial de saúde, tanto em termos do número de pessoas afetadas, da incapacidade, da mortalidade prematura, quanto nos custos envolvidos no controle e no tratamento de suas complicações. A incidência desta doença vem aumentando principalmente nos países desenvolvidos, devido à modificação dos hábitos alimentares e com o sedentarismo dos tempos modernos. Calcula-se que em 2025, possam existir cerca de 11 milhões de diabéticos no Brasil, representando um aumento de mais de 100% em relação aos atuais 5 milhões de diabéticos.

O Ministério da Saúde (2002) define DM como uma síndrome de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina em exercer adequadamente seus efeitos, caracterizando-se por hiperglicemia crônica com distúrbios do metabolismo dos carboidratos, proteínas e lipídios. Durante a digestão normal, o corpo converte o açúcar, o amido e outros alimentos em açúcar simples chamado glicose, que é conduzida pelo sangue até as células, e introduzida no interior pela insulina. Dessa forma, a glicose é convertida em energia para a utilização imediata ou armazenada para o uso próximo. No entanto, quando o DM aparece, este processo é interrompido. A glicose acumula-se no sangue, ocasionando um quadro de hiperglicemia. O excesso de glicose no sangue e a sua falta no interior da célula são as causas de todos os sintomas do Diabetes.

O DM é dividido em quatro classes: DM Tipo I (deficiência de insulina causada por destruição das células beta pancreáticas, doença auto-imune); DM Tipo II (resistência periférica à insulina com secreção compensatória insuficiente); Outros tipos específicos (secundários a outras patologias) e DM Gestacional (incapacidade das mulheres aumentarem a sua secreção de insulina durante a gravidez). O grau de insuficiência do hormônio insulina é que determina a subdivisão do diabetes em dois grupos: Insulino Dependente ou Tipo I e Não Insulino Dependente ou Tipo II. No Tipo I, há produção de anticorpos anti-ilhota de Langerhans com destruição progressiva das células beta do pâncreas, ocorrendo uma redução gradual da síntese de insulina até a falência completa da célula beta. Faz parte de 5 a 10% da população diabética e tem inicio na infância, adolescência ou em adultos jovens. No tipo II, há uma resistência periférica das células à insulina, o que impede a glicose de entrar nas células, ficando as mesmas sem substrato para a produção de energia e então, não conseguem realizar seus processos metabólicos. O tipo II é causado, principalmente, pela obesidade.

O tratamento do DM pode ser realizado por meio de modificações dietéticas, perda de peso ou uso de drogas antidiabéticas orais. Outro fator de prevenção e auxilio no tratamento da Diabete e da diminuição das complicações associadas, é o exercício físico que contribui com uma melhor qualidade de vida ao diabético. Após o término da atividade, a musculatura continua captando glicose mais eficientemente, com o objetivo de recompor o glicogênio muscular e hepático, bem como recuperar o organismo.

DIABÉTICOS E EXERCÍCIOS
Os benefícios da prática regular de exercícios em diabéticos incluem a redução da perda da massa óssea (osteoporose), aumento do fluxo sangüíneo muscular e a circulação de membros inferiores. Todos esses fatores contribuem para a redução de peso, bem como a manutenção do peso normal e da massa muscular se o exercício for associado a uma dieta hipocalórica.

Os exercícios regulares aceleram as adaptações metabólicas e hormonais que aparecem no início do exercício físico e contribuem para reduzir as necessidades da insulina. Também aumentam a sensibilidade à insulina de forma semelhante ao indivíduo saudável, por um aumento significativo a responsividade dos receptores de insulina, proporcional à melhora da aptidão física.

Antes de iniciar um programa de exercícios físicos os indivíduos diabéticos devem passar por uma avaliação médica detalhada com métodos diagnósticos adequados. Inicialmente traçada uma história clínica e realizado um exame físico, com particular atenção nas possíveis complicações micro e macrovasculares (neuropatia, retinopatia, doenças cardiovasculares, controle glicêmico), os quais podem ser agravadas pelo programa de exercício.

DIETA

O índice glicêmico (IG) é um indicador baseado na habilidade da ingestão do carboidrato (50g) de um dado alimento elevar os níveis de glicose sanguínea pós-prandial, comparado com um alimento referência, a glicose ou o pão branco. O corpo não absorve e digere todos os carboidratos na mesma velocidade.

Fatores como a presença de fibras solúveis, o nível do processamento do alimento, a interação amido-proteína e amido-gordura, podem influenciar nos valores do índice glicêmico.

Alimentos de alto índice glicêmico rápida (> 85)
Alimentos de moderado índice glicêmico média (60-85)
Alimentos de baixo índice glicêmico, ou seja, absorção lenta (< 60)


Recomendações gerais de carboidrato para praticantes de atividade física:
Pessoas que se exercitam regularmente deveriam consumir de 55 a 60% do total de calorias diárias sob a forma de carboidratos. Indivíduos que treinam intensamente em dias sucessivos, requerem de 60 a 75% (ADA, 2000);
6-10g de carboidrato/kg/dia (ADA, 2000).

Recomendações de carboidrato para atividades de força:
55 a 65% (ADA, 2000).

Recomendações pré-exercício
Nas 3-4 horas que antecedem: 200-300g de carboidrato (ADA, 2000)

Objetivo 1: permitir tempo suficiente para digestão e absorção dos alimentos (esvaziamento quase completo do estômago);

Objetivo 2: prover quantidade adicional de glicogênio e glicose sanguínea;

Objetivo 3: evitar a sensação de fome.

Durante o exercício, a disponibilidade da insulina para a captação de glicose é muito pequena. Estudos indicam que o aumento da velocidade de transporte e o aumento da atividade contrátil relacionam-se com a maior ativação de transportadores de glicose que, no caso do músculo esquelético, se chama GLUT4. A magnitude da captação de glicose pelo músculo esquelético está relacionada com a intensidade e a duração do exercício, aumentando proporcionalmente com a intensidade.

Qual a melhor fonte de carboidrato a ser utilizada 1 hora antes do exercício?
Devemos priorizar carboidratos de alto índice glicêmico

Objetivo 1: indivíduos suscetíveis a queda da glicemia não devem ingerir carboidratos de alto índice glicêmico para evitar a Hipoglicemia Reativa;

Objetivo 2: níveis elevados de insulina inibem a Lipólise, o que reduz a mobilização de ácidos graxos livres do tecido adiposo e, ao mesmo tempo, promovem aumento do catabolismo dos carboidratos. Isto contribui para a depleção prematura do glicogênio e fadiga precoce.

Imediatamente antes (15 min antes):
50-60g de polímeros de glicose (ex. maltodextrina - carboidrato proveniente da hidrólise parcial do amido). Esta ingestão é similar à ingestão durante a atividade física e pode melhorar o desempenho.

Recomendações durante o exercício:
30-60g de carboidrato/hora (ADA, 2000)

Objetivo 1: manter o suprimento de 1g de carboidrato/minuto, retardando a fadiga em, aproximadamente, 15-30 min, para poupar os estoque de glicogênio;

Objetivo 2: manter a glicemia prevenindo dores de cabeça, náuseas, etc.
"A suplementação de carboidratos durante o exercício é muito eficiente na prevenção da fadiga, porém deve ser ingerida durante todo o tempo em que a atividade está sendo realizada ou, pelo menos, 35 minutos antes da fadiga devido à velocidade do esvaziamento gástrico".

Quando o consumo de carboidratos durante o exercício se faz necessário?
O consumo de carboidratos durante a atividade física só aumentará efetivamente o rendimento se a atividade for realizada por mais de 90 minutos a uma intensidade superior a 70% do VO2 máx.

O consumo de carboidratos durante o exercício parece ser ainda mais importante quando atletas iniciam a atividade em jejum, quando estão sob restrição alimentar visando a perda de peso ou quando os estoques corporais de carboidratos estejam reduzidos ao início da atividade. Nestes casos, a suplementação de carboidratos pode aumentar o rendimento durante atividades com 60 minutos de duração.

Qual a melhor fonte de carboidrato a ser utilizada durante o exercício?
Muitos estudos demonstram que glicose, sacarose e maltodextrina parecem ser igualmente efetivos em melhorar a performance. Segundo a ADA (2000), o consumo durante o exercício deve ser, preferencialmente, de produtos ou alimentos com predominância de glicose; a frutose pura não é eficiente, apesar da mistura glicose com frutose ser bem tolerada.

Recomendações pós-exercício
1,5g de carboidrato/kg de peso nos primeiros 30 minutos e novamente a cada 2 horas, durante as 4-6 horas que sucedem o término do exercício (ADA, 2002);
0,4g de carboidrato/kg de peso a cada 15 minutos, durante 4 horas. Neste caso observa-se a maior taxa de recuperação do glicogênio, porém o consumo calórico acaba excedendo o gasto energético durante o exercício

Objetivo: facilitar a ressíntese de glicogênio.

O consumo imediato de carboidrato (nas primeiras 2 horas) resulta em um aumento significativamente maior dos estoques de glicogênio. Assim, o não consumo de carboidrato na fase inicial do período de recuperação pós-exercício retarda a recuperação do glicogênio.


Qual a melhor fonte de carboidrato a ser utilizada após o exercício?
A recuperação dos estoques de glicogênio pós-exercício parece ocorrer de forma similar quando é feito o consumo tanto de glicose quanto de sacarose, enquanto que o consumo de frutose induz uma menor taxa de recuperação.

Conclusão: devemos priorizar os carboidratos de baixo índice glicêmico.

Texto elaborado pela Equipe Nutrival (Carla Latini, Fernanda Marchetto, Lenycia Neri e Raquel Campreghel)
(Agosto 2006)